História de Vovó Benedita

Vovó Benedita conta que no tempo da senzala, os negros colocavam o caldo de cana-de-açúcar no fogo, em um tacho grande de ferro ou de barro para fazer o melado.

Nesta tarefa, os negros mexiam o caldo até que se tornasse uma substância consistente, cremosa e viscosa. Uma tarefa cansativa, porque não podiam parar de mexer para apurar o caldo, sob pena de receberem chibatadas no lombo. Conta que teve um dia que o feitor passou mal e foi levado em busca de socorro, mas os negros, muito cansados, aproveitaram o ocorrido para descansarem um pouco. Tempo depois, os negros perceberam que o melado tinha desandado e perdido o ponto, foi quando esconderam o tacho e colocaram outro no lugar, para que o feitor não percebesse o ocorrido.

No dia seguinte, pegaram o tacho de melado azedo e fermentado, o qual estava escondido e misturaram em um novo tacho. Quando colocaram no fogo, o que aconteceu?

O melado azedou e virou em álcool. Começou a subir para o teto do engenho e começou a formar gotas que ficavam pingando sem parar. Foi então que surgiu o nome da pinga ou água que ardia, pois ficava pingando no teto do engenho sem parar. Os pingos quando caiam nos lombos dos escravos causavam uma ardência muito grande, por causa das feridas das chibatadas feitas pelo feitor.

Os negros então chamavam a “pinga” de “água ardente” ou “aguardente”, pois o efeito que os “pingos” causavam no lombo dos negros era consolador, já que muitos ficavam alegres depois de lamber a pele castigada pelas feridas dos maus tratos que recebiam, causando efeito entorpecedor e de euforia.